sexta-feira, maio 18, 2007

As flores do mal

Matilde era uma mulher simples, pacata, 32 anos, solteira, nem feia, nem bonita. Filha única, os pais já haviam morrido há anos, morava num apartamento de um conjunto habitacional em Miracema do Norte.

Todos os dias, de segunda a sábado, Matilde seguia para o trabalho de ônibus. Nos seus afazeres, como caixa de uma padaria no centro da cidade, não tinha muito tempo para pensar em sua própria vida, mas durante as viagens que fazia, entre o trabalho e a casa, a imaginação corria. Estava sempre com um livro nas mãos, os romances eram os preferidos.

Desde menina Matilde sonhava com o casamento, um homem amável, bonito e dedicado.
Não teve sorte, nenhum homem se aproximou dela da forma que gostaria. Alguns chegavam muito agressivamente, chamando-a para sair e já dizendo das intenções que tinham, outros eram tão tímidos , assim como ela, que a conversa não ia prá frente.

Um belo dia, entre o pagamento de uma média e um maço de cigarros, chegou um vaso de violetas com o seguinte bilhete: "Para enfeitar o seu dia, Matilde." Intrigada, não levou a sério já que não estava acostumada com galanteios, os seus sonhos jamais se realizariam. No dia seguinte, uma rosa, e no outro um ramo de crisântemos e depois margaridas, e todos com o mesmo bilhete. A esta altura Matilde já estava curiosa e ao mesmo tempo tensa com a situação: quem seria o seu admirador secreto?

O sábado chegou e Matilde não recebeu nenhuma flor. Quando já estava fechando o caixa, as oito da noite, aparece na frente dela um homem de aproximadamente 55 anos, moreno, alto, forte, bem vestido e com uma pinta na bochecha esquerda. Matilde ficou impressionada com a figura, mas ao mesmo tempo zangada, pois já havia fechado o dia.

O homem se aproximou e disse: “Boa noite, esses bombons são para você”. Vermelha como um pimentão, sorriu timidamente como quem agradecesse, já desconfiada que este seria seu admirador. O homem saiu sem nada mais dizer e Matilde trêmula, fechou a padaria.

Andou uns 500 metros e foi abordada novamente pelo homem dos bombons e das flores. Ele a segurou fortemente pelos braços e a beijou. Matilde se entregou ao beijo como se desmaiasse. O homem disse que há cinco anos olhava Matilde de longe sem conseguir chegar perto e que agora não poderia mais esperar. Matilde queria se desvencilhar do olhar e dos braços dele, mas não conseguia. Era a força do homem somada a força do momento, contra tudo que ela deveria fazer.

Rapidamente ele pediu que Matilde entrasse no carro, a intenção era conversar e deixá-la em casa. Matilde relutou , mas ele disse que nada temesse. Ele já a conhecia há cinco anos, não demoraria tanto a fazer algum mal se esta fosse a intenção. Matilde conformada entrou no carro e nunca mais foi vista.

3 comentários:

Carrie, a Estranha disse...

Ai...q lindo...e triste! E eu pensando q estava sendo preconceituosa em não acreditar q um homem bonito poderia gostar de Matilde...

bj

Canimo disse...

Mas será que ele era bonito? Será que ele gostava dela? Acho que bonito ele até poderia ser, mas não gostava dela...

Não tô ao leite hoje, tô meio-amarga...

raquel winter kreischer disse...

tá vendo, que perigo?