segunda-feira, dezembro 11, 2017

Agonia da segunda década.


Os lugares mais insólitos e pobres do Brasil também estão enfeitados para o Natal. Vejo os filmes de ficção científica, a parte ruim deles, virar realidade no "noticiário" compartilhado das redes sociais. Qual o deus ou diabo que inventou esse novo mundo? Chego a conclusão que deus e o diabo são o próprio homem fazendo a sua história sem ao menos perceber. Queria descobrir a partir de qual emoção em falta ou em excesso são provocadas por essas mudanças. Estará o homem em busca do que para criar essas novas lógicas? É um caos preciso, sempre ligado ao consumo, à economia. Nunca algo positivo. É uma maquiagem, uma construção de realidade e de felicidade sem precedentes e sem sentido, tudo cada vez mais estranho e complicado. Estamos correndo para que, de que e para onde?

segunda-feira, novembro 27, 2017

Linda criança

Agora é 2008.
Uma adolescente reage à fase de transição,
Mas continha minha criança.

Linda criança que agora dorme, queria pegar-te no colo novamente,
Atender-te aos desejos mais básicos,
Afagar-te os cabelos tão lindos.

Querida criança que dorme ao som dos ritmos mais atuais,
Cheios de mensagend de conflito e inquietação.
Queria velar-te o sono e impedir a chegada dos monstros,
Dos vilões, dos ruídos do mundo adulto.

Fora o teu sorriso e teu olhar líquido-verde que me impulsionaram
A permanecer viva tempos atrás.
Hoje tu és um escuro recheio em uma pele alva,
Linda, de criança e de princesa.
Um sorriso calculado, uma fala selada e um abraço frígido.
Esquecestes de mim.

Eu choro e enrrubeço de medo e de raiva.
Queria te mostrar que o mundo é melhor do que isso que estás vivendo.
O sonho não pode terminar com prazeres efêmeros
É o que posso te dizer.

segunda-feira, novembro 06, 2017

King Crimson - Islands




With this history in the comments: I have a story with this music. I just arrived in my psychiatrist room with a Pink Floyd shirt. When he saw my shirt, he decided that I should meet King Crimson. He said "You'll listen to this music every moment that you feel sad, then you will fall in peace". That's exactly what happened. Since that day, King Crimson is my favorite band. It was 2 years ago. Thanks, Dr. Paulo.
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domingo, novembro 05, 2017

A Canção do Suicida


Só mais um momento.
Que voltem sempre a cortar-me
a corda.
Há pouco estava tão preparado
e havia já um pouco de eternidade
nas minhas entranhas.

Estendem-me a colher,
esta colher de vida.
Não, quero e já não quero,
deixem-me vomitar sobre mim.

Sei que a vida é boa
e que o mundo é uma taça cheia,
mas a mim não me chega ao sangue,
a mim só me sobe à cabeça.

Aos outros alimenta-os, a mim põe-me doente;
compreendei que há quem a despreze.
Durante pelo menos mil anos
preciso agora fazer dieta.

Rainer Maria Rilke, in "O Livro das Imagens"

Tradução de Maria João Costa Pereira

terça-feira, outubro 10, 2017

Acontecimentos



Isso é uma bela canção da MPB. Incrível como uma música pode ter feito tanto sentido numa determinada época e agora não significar absolutamente nada. A roda é viva mesmo.

segunda-feira, outubro 09, 2017

O Amor

Um dia, quem sabe,
ela, que também gostava de bichos,
apareça
numa alameda do zôo,
sorridente,
tal como agora está
no retrato sobre a mesa.
Ela é tão bela,
que, por certo, hão de ressuscitá-la.
Vosso Trigésimo Século
ultrapassará o exame
de mil nadas,
que dilaceravam o coração.
Então,
de todo amor não terminado
seremos pagos
em inumeráveis noites de estrelas.
Ressuscita-me,
nem que seja só porque te esperava
como um poeta,
repelindo o absurdo quotidiano!
Ressuscita-me,
nem que seja só por isso!
Ressuscita-me!
Quero viver até o fim o que me cabe!
Para que o amor não seja mais escravo
de casamentos,
concupiscência,
salários.
Para que, maldizendo os leitos,
saltando dos coxins,
o amor se vá pelo universo inteiro.
Para que o dia,
que o sofrimento degrada,
não vos seja chorado, mendigado.
E que, ao primeiro apelo:
– Camaradas!
Atenta se volte a terra inteira.
Para viver
livre dos nichos das casas.
Para que doravante
a família seja
o pai,
pelo menos o Universo,
a mãe,
pelo menos a Terra.

Vladimir Maiakovski (1893-1930)

***********************

Talvez quem sabe um dia
Por uma alameda do zoológico
Ela também chegará
Ela que também amava os animais
Entrará sorridente assim como está
Na foto sobre a mesa
Ela é tão bonita
Ela é tão bonita que na certa eles a ressuscitarão
O século trinta vencerá
O coração destroçado já
Pelas mesquinharias
Agora vamos alcançar
Tudo o que não podemos amar na vida
Com o estelar das noites inumeráveis
Ressuscita-me ainda que mais não seja
Porque sou poeta
E ansiava o futuro
Ressuscita-me
Lutando contra as misérias do cotidiano
Ressuscita-me por isso
Ressuscita-me
Quero acabar de viver o que me cabe
Minha vida para que não mais existam amores servis
Ressuscita-me para que ninguém mais tenha de sacrificar-se
por uma casa, um buraco
Ressuscita-me
Para que a partir de hoje
A partir de hoje
A família se transforme
E o pai
Seja pelo menos o Universo
E a mãe
Seja no mínimo a Terra
A Terra
A Terra

(adaptação musicada por Caetano Veloso)

sábado, setembro 30, 2017

Florescer no deserto



Difícil florescer nesse chão árido que nos restou. O tempo vai nos afastar do sorriso, do olhar, do cheiro, dos beijos, dos abraços... O que é material será a cada dia mais esquecido e ficarão as sensações, os sentimentos, as emoções experimentadas juntas. O primeiro sorriso, a primeira palavrinha, o primeiro uniforme,a primeira viagem, o primeiro amor. Os dias das crianças, as Páscoas, os Natais, os cães, os concertos, as bonecas, o violino, o piano, a voz...

Elbow - The Loneliness of a Tower Crane Driver



quarta-feira, setembro 27, 2017

Quinze anos de Helena, hoje.

Hoje, Helena faria 15 anos!

domingo, setembro 10, 2017

Mal-estar na maternidade

Por Vera Iaconelli

"Bem-vindo à geração cem por cento, que acredita que pode e deve dar conta de tudo e de fazer escolhas que não impliquem perdas. Uma aluna comentou esse fenômeno sabiamente: "Escolha sua perda!". Sim, é disso que se trata.
Uma ínfima parcela da população pode se dar ao luxo de não ter que caçar seu mamute diariamente. Além disso, temos outras aspirações, que nos fazem mais do que caçadores, que nos fazem humanos.
Ainda assim, somos assombrados pela ideia de que nossos filhos serão traumatizados pela nossa ausência. Aqui funciona a lógica de que pai e mãe são oxigênio, de que qualquer outro adulto cuidando deles será fatal.
Trata-se de uma lógica capitalista do individualismo, do semelhante como ameaça e da entrada do especialista no lugar dos laços sociais.
Nossos filhos viverão em média 4 a 5 décadas mais do que nós -ou seja, os deixaremos órfãos, na melhor das hipóteses. Ausência fundamental que marca o sentido da parentalidade, pois acarreta criar sujeitos rumo à autonomia.
Portanto, devemos reconhecer que nossa participação em suas vidas só tem sentido se apontar para além de nós mesmos, para os laços sociais e o mundo.
Há, ainda, outras ausências, menos radicais do que a morte, com as quais devemos aprender a lidar. Ausentamo-nos trabalhando, amando outras pessoas, amando outras coisas e amando a nós mesmos. Para o bem da saúde mental de nossos filhos, temos outros interesses e outras fontes de prazer e realização, o que permitirá a eles tê-los também.
Ninguém merece ser tudo para um pai ou uma mãe. Por outro lado, nenhum adulto merece criar uma criança sem ajuda, sem respiro, tendo que gostar de brincar por obrigação.
Crianças devem conviver com vários adultos reais, limitados, sinceros, honestos e protetores, sejam familiares ou profissionais. E, preferencialmente, estar com outras crianças.
A tarefa parental é imensa e vitalícia. Será exercida por quem assumir essa responsabilidade radical, não cabendo aqui fazer diferença entre homens e mulheres, pais e mães. Quem tomar para si essa missão só poderá cumpri-la a partir de suas escolhas e consequentes perdas, sem fazer da parentalidade um poço de ressentimento e culpas, cuja conta quem paga são os filhos.
Então, façamos a lição de casa. O que realmente é possível para cada família específica, para além de um mundo fantasioso no qual os pais se dedicariam integralmente aos filhos como se isso fosse bom para as crianças?
Perguntemo-nos também o que é desejável para nós, pois a presença ressentida não passa desapercebida aos pequenos.
Ao deixá-los com outros, sejam familiares ou profissionais, cabe assumir essa escolha, não valendo controlar à distância avós, babás e professores, o que é enlouquecedor.
Enfim, escolha sua perda e aprenda a se ausentar. As novas gerações agradecem."

VERA IACONELLI, psicanalista, é diretora do Instituto Gerar. Escreveu o livro "Mal-estar na maternidade: do infanticidio à função materna" (Annablume, 2015)

Da hipocrisia e outras tragédias

É incrivel, você passa por uma tragédia e imediatamente reconhece nos outros as piores características dos seres humanos. Outra questão é o impacto nas redes sociais a partir de uma notícia trágica, quando você e sua família são pessoas conhecidas. Ao escrever isso, retifico: dependendo da tragédia, ainda que você seja um mero desconhecido, as pessoas se desconectam dos próprios problemas para agarrar no seu. Tem gente que se debulha em lágrimas e doem como se estivessem muito consternados e solidários. Psiquicamente a explicação é simples, estes sentem com você como se estivessem vivendo a tragédia para si e não a sua. Coitados, às vezes choram mais e você ainda nem digeriu sua dor direito, você está ali petrificado e em choque com a sua perda. Choram esses compulsivamente pensando na ideação do sofrimento.

Experimentei nesses dias as piores decepções. Gente que te chama de irmã, de melhor amiga, postando a tragédia que se abateu sobre você, como se estivesse compartilhando uma receita de bolo e como se não te conhecesse. Depois vem as condolências "meus sentimentos" acompanhados ou até posteriores à seguinte expressão: "nossa estou chocada ou chocado, mas o que aconteceu realmente?". Isso é quase dizer: por favor me conta, eu estou muito curiosa ou curioso. E ai quando a notícia cai na boca de quem não é próximo a você toma proporções inimagináveis. Chegam a rir da sua desgraça como se não fosse possível que ela acontecesse com ninguém mais, inclusive com quem ri. Fora isso, tempos depois, você descobre que pessoas, parentes e amigos, que estiveram nas celebrações da perda, enquanto te davam os pêsames comentavam com outros sobre a vida pessoal do morto e da familia dele.

Tem aqueles que não dizem nada mesmo. Seguem suas vidas hipócritas e pseudo felizes sorrindo pra você como se nada estivesse acontecendo. Estes também parecem descolados da realidade. Você numa dor que não passa nunca e a pessoa no velório ou na missa sorrindo como se naquela "festa" fosse o bobo da corte.

Eu achava que tinha muitos amigos, a partir de agora são mesmo muitos, muito poucos. Alguns somem. Eu entendo que estes amigos tem medo de tragédia como se fosse contagioso e nos dão a sensação que acreditam mesmo que a vida pode ser feita só de felicidade e que você é uma pessoa sem sorte - enganam-se. O que me consola sobre essa exposição da nossa dor, é que a expressão do nosso sofrimento e essa repercussão e espetacularização vivida por outras pessoas passou. Hoje faz 30 dias e logo, logo, será só nossa, de nós 2 ou 3 que realmente sentiremos até o nosso último suspiro.

Dizem que o luto passa por uma série de fases. Isso é verdade. Primeiro você nega, depois você se revolta contra o que é etéreo, depois você se desespera, depois você se deprime e depois você aceita a viver com essa dor. Eu estou na fase do desespero ainda, que às vezes se mistura com uma espécie de mantra do "eu não acredito".




terça-feira, maio 30, 2017

quinta-feira, maio 25, 2017

10cc - I m Not In Love - (With Subtitles in English)



Isso não quer dizer nada, não...É só uma fase boba e cafona pela qual eu estou passando.

quinta-feira, maio 18, 2017

Close to You - Carpenters with Lyrics



Só pra eu lembrar desses dias, mesmo que seja só uma pequena viagem...

quinta-feira, maio 11, 2017

Seus OLHOS



E esses seus olhos de luzes, é só olhar pra eu me apaixonar...

quarta-feira, maio 03, 2017

Divina Comédia Humana — Belchior — Todos os Sentidos (1978)



No entanto, enquanto houver espaço, corpo, tempo e algum  modo de dizer não, eu canto.

segunda-feira, abril 24, 2017

terça-feira, abril 18, 2017

segunda-feira, abril 17, 2017

Paul Weller - That's Entertainment (Feat Noel Gallagher)



Tão bonitinho isso, mas a plateia ouve como se fora música clássica, sem dar um pio porque é acústico, e só vibra no final.

domingo, abril 16, 2017

Aos Corintos e a mim.

O amor é uma armadilha. Faz tempo que não amo. Demorei a entender o que é o amor. Amei quando não sabia e quando achei que era amor, não era. Pensei que fosse amada, não fui. Também não considerei que fui amada, quando na verdade era. Amar é uma armadilha. Para alguns o amor é uma coisa só, uma pessoa só, uma vida inteira. Tem gente que acha que o amor não existe. O amor é egoísta. O amor é egoísta? O amor é uma troca. O amor tem interesse. Contrariando Paulo, o amor não é o mais importante, pois há muito sobrevivo da esperança.


1 Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine.
2 E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria.
3 E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.
4 O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece.
5 Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal;
6 Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade;
7 Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
8 O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá;
9 Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos;
10 Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado.
11 Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.
12 Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido.
13 Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor.

terça-feira, abril 04, 2017

Radiohead - Creep (Legendado)

Radiohead - No Surprises

A heart that's full up like a landfill
A job that slowly kills you
Bruises that won't heal
You look so tired and unhappy
Bring down the government
They don't, they don't speak for us
I'll take a quiet life
A handshake of carbon monoxide
And no alarms and no surprises
No alarms and no surprises
No alarms and no surprises
Silent, silent
This is my final fit
My final bellyache with
No alarms and no surprises
No alarms and no surprises
No alarms and no surprises, please
Such a pretty house
And such a pretty garden
No alarms and no surprises (let me out of here)
No alarms and no surprises (let me out of here)
No alarms and no surprises, please (let me out of here)

domingo, abril 02, 2017

Somos corpos que caem

Domingo de manhã. Acordo meu corpo ainda não-dócil para um dia de preguiça e tomara de muita leitura e reflexão. Passeio pelos posts dos amigos e de páginas curtidas no meu "feed". Ao longo do desce e sobe do cursor me deparo com uma matéria em um programa de TV. A atenção está voltada para uma atriz que perdeu peso e melhorou a sua saúde de uma forma muito simples. Meu corpo não-dócil começa a ler sem pretensões e aos poucos vai se tornando dócil. Ao ler essa matéria eu naturalmente me inspiraria por uma vida real, mas não. A matéria me responde o "quem", o "onde", o "porque", e então me responde o "como". Nesse momento em que o corpo quase cai, volta o meu corpo não-dócil.
No "como" da matéria está um livro, neste livro a solução: se e somente se você clicar no link aparecem o preço e o nome de quem escreveu. Isso nem é publicidade, é uma matéria sobre uma vida real. Meu corpo não-dócil na mesma hora sorri, com certa decepção, e tento fechar a página. Não consigo, o dominante me implora para não ir embora. Como um amante cheio de desejo me provoca: não vá ainda. Lendo os comentários tenho a certeza de que muitos corpos dóceis serão consumidos pela oferta de algo que se parece uma experiência e um testemunho de vida feliz. Sorrio desencantada e agora determinada a sair dali com pressa.

segunda-feira, fevereiro 13, 2017

sexta-feira, janeiro 27, 2017

Under The Milky Way


Olhem de novo esse ponto. É aqui, é a nossa casa, isso somos nós.
Nele, todos a quem ama, todos a quem conhece, qualquer um sobre
quem você ouviu falar, cada ser humano que já existiu, viveram as suas vidas.
O conjunto da nossa alegria e nosso sofrimento.
Milhares de religiões, ideologias e doutrinas econômicas,
cada criador e destruidor de civilização (...) viveu aí, num grão de pó suspenso
num raio de sol. As nossas posturas, a nossa suposta auto importância,
a ilusão de termos qualquer posição de privilégio
no Universo, são desafiadas por este pontinho de luz pálida.
O nosso planeta é um grão solitário na imensa escuridão cósmica
que nos cerca. Na nossa obscuridade, em toda esta vastidão,
não há indícios de que vá chegar ajuda de outro lugar
para nos salvar de nós próprios.

Carl Sagan