domingo, março 24, 2013

Bem me quer mal me quer






Eu nunca gostei muito do Vinícius de Morais. Não compreendia aquela história de "posto que é chama" e por aí vai, tinha a impressão de que ele tratava o amor como algo efêmero demais. Tenho mudado de opinião, gosto disso, gosto de quem muda de opinião. Então, acordei hoje e me deparei com esse poema dele. Resolvi guardar aqui nesse canto.

Te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor
seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentando
Pela graça indizível
dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura
dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer
que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas
nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras
dos véus da alma...
É um sossego, uma unção,
um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta,
muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite
encontrem sem fatalidade
o olhar estático da aurora.

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